Fazer chegar os alimentos e a Soberania Alimentar: o MPA e o abastecimento nas cidades
Acesso à comida de verdade é essencial para a ampliação e preservação das culturas sócio alimentares brasileiras
Por Denise De Sordi
Há um local nas cidades que praticamente todos nós entramos pelo menos uma vez ao mês: o supermercado. As opções de alimentos, em geral, encontram-se agrupadas em setores específicos, organizados a partir estratégias mistas de ação que, como Camila Borges, pesquisadora do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da USP (Nupens/USP), esclarece em entrevista ao Joio e o Trigo, criam tipos específicos de “ambiente alimentar” (1).
Borges alerta que a investigação acerca da composição desse tipo de ambiente alimentar é central em um país no qual “mais de 50% da população adquire alimentos nos grandes supermercados”, a propaganda, as promoções e uma série de outros fatores que caracterizam esses ambientes, têm influência direta sob o consumo de ultraprocessados (1). Isto é, alimentos que são comercializados como alimentos, mas que são exemplares do que o Brasil classifica como “formulações alimentícias”. (2)
Falar em “comida de verdade” como o completo oposto dos ultraprocessados não pode ser algo compreendido tão somente como retórica estratégica de vendas às classes média e alta, ou como questão menor, tida pejorativamente como “ruído” de debates derivados de certa “gastronomização” da vida. Ou seja, do processo que permite a elitização de hábitos alimentares regionais e populares, como pontuado em artigo das pesquisadoras da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Thágila Oliveira e Julie Cavignac (3).
Além do impacto direto na saúde pública (4), o acesso à comida de verdade, em referência aos alimentos in natura ou minimamente processados (5), é essencial para a ampliação e preservação das culturas sócio alimentares brasileiras, melhorando nossa relação com a natureza, com o trabalho e com nossa consciência ambiental. Entretanto, o acesso à comida de verdade, sofre grande pressão das grandes redes que priorizam “àquilo que interessa ter nas gôndolas, excluindo alimentos regionais, frutas de quintal, verduras brasileiras”, desafiando “leis trabalhistas para impor um funcionamento de 24 horas, sete dias por semana” (6).
Parece difícil fugir aos supermercados nas cidades, e o acesso à alimentos variados, seguros e saudáveis se configura como um desafio financeiro às famílias. Distante de se configurar enquanto um problema individual, essa dificuldade diz respeito à não diversificação dos equipamentos de Segurança Alimentar e Nutricional (2), incluindo as Feiras e Mercados populares.
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